*__Ponte aérea__*
Uma gringa paulista metida a besta trocando cartas confidenciais com um carioca metido a esperto.

quarta-feira, outubro 09, 2002

<Bia Singer> Deixe passar a mensagem

Querido escritor que entra pelos canos da vida e continua feliz, sua amiga aqui entra por todos os canos imagináveis e ainda sai cantando na chuva. Um truque que aprendi para não ter medo de trovão.

Hoje, no entanto, outros fantasmas me assustam. O sucesso, o calor, a loucura, o desequilíbrio e, sobretudo, a vertigem. A vertigem é o pior dos fantasmas porque é prenúncio do fantasma-mor, o Pânico.

Mas às vezes temos que conversar com nossos fantasmas, aceitar que eles assustam mesmo, estão aí para isso. Só de saber disso o medo já diminui, não? Medo. Palavra sêca como uma uva passa. Arrancaram toda a água de dentro dela e deixaram-na negra e condensada em nosso estômago. Vai dizer que quando você sente medo não é o estômago o primeiro a se manifestar lançando raios gelados de adrenalina para todos os seus membros?

Não, na verdade não queria começar esta carta falando de medo. Senão você vai estranhar e pegar a primeira *__Ponte Aérea__* para vir ver como estou e estou muito bem, muito bem mesmo. Obrigada por simplesmente cogitar vir me ver. Se essa idéia se passou na sua cabeça até este ponto da leitura, eu já te amo mais que antes. Entãao eu já te amo mais que antes, porque tenho a sensação de que você, como eu, tem vontade de vir me ver sempre que lê uma carta nova minha.

Só fico triste por não poder dedicar mais tempo a este nosso cafofo virtual. Ele é delicioso e confortável e não sinto medo algum quando olho para ele e para o teclado e de volta para ele. Escrever para você é uma terapia eficaz. Mesmo. Sei que posso falar sobre tudo com você, e sei que seus comentários a respeito serão sinceros. És um ótimo amigo, você sabe, né?

Amigo, não imagina você como eu gostaria que cá estivesse para o lançamento do meu livro. Tenho que confessar que estou um pouco apreensiva, já que meu texto é meio discrepante em relação aos outros e até ao tema central da antologia, que é transcendência. Imagine que deixo sub-entendido ali ser a escrita a minha forma de transcender. Achei até interessante, para tirarmos do ideário popular a ilusão de que transcendência só tem a ver com religião. Transcender é fazer tudo aquilo que te leve a um plano fora da realidade palpável. E é o que acontece quando eu escrevo. E só quando escrevo. Sou escrava desse teclado já desgastado de tanto ser espancado por estas mãos nada delicadas.

Queria que este teclado soubesse quão importante ele é para mim. Mas seria tão patético quanto falar para o pato agradecer por ter um bico. Escrever é um membro do meu corpo já. Não é mais uma simples ação. Assim como tenho clavículas, tenho a escrita. Ela é tão importante quanto um osso importante.

Penses nisso quando pensar em escrever para o Cocadaboa. Você adora aquela porra. eu adoro aquela porra. Você adora escrever, meu amigo. Independentemente do assunto. Sabemos falar sobre tudo. Somos multifacetados. Somos fedidos e cheirosos, brancos e pretos, bons e maus. Não somos um, graças a deus. Solte o P.I.R.U. Seja Sarcantus. Escreva como se nem você mesmo pudesse controlar suas mãos. E escreva como se ninguém nunca fosse ler. Eis o pequeno segredo perdido em nossa cabeça e que só alcança quem é teimoso, como nós. Lembre-se que os olhos grandes e azuis de Raquel não têm mais o poder de te julgar. Lembre-se que ninguém tem o poder de julgar o que você escreve, meu amigo. Lembre-se de não reler o que escreve. Lembre de soltar seus textos como um ator solta seu corpo num palco de teatro.

Sinta a escrita te dominar como se você fosse mero mensageiro da Escrita Mãe para os meros mortais que hão de topar com seus escritos aqui ou acolá. Foda-se o que vão pensar. Foda-se o que VOCÊ vai pensar. Você está apenas passando a mensagem. E deixe-se gozar enquanto ela corre do teu peito ao teclado. Isso é transcendência em seu estado mais bruto. </Bia Singer> <!--7:13 PM-->

terça-feira, outubro 01, 2002

<Bia Singer> I like being fucked

Que palavras lindas, amigo. Também estou me divertindo com isto aqui. Uma forma de tornar público todo esse nosso potencial para falarmos de nós mesmos o tempo todo. Ainda quero ajeitar nosso cantinho para ficar aconchegante e com a nossa cara. Penso em um logo com um aviãozinho indo de uma torre da Av. Paulista ao Pão de Açúcar ou ao Cristo e, um balão daqueles de quadrinho saindo de cada um dos pontos falando besteira, e um fio de cabo telefônico ligando cada cidade ao avião. O que acha? É muito complicado? Eu, logicamente, não sei desenhar. Mas posso começar uma campanha no I, e, sei lá...

Tenho certeza que sai algo legal, mas não do *meu* pincel. Sou monga para desenhos.

Sobre sua escabrosa e comum pergunta, meu amigo, a resposta é depende. Depende do período que abrange seu “ultimamente”. Se falas do começo do ano para cá, a coisa foi boa. Dei muito. Mesmo. Não me arrependo de nenhuma trepada, foram (quase) todas muito boas e com pessoas que eu gosto mesmo. Mas nenhuma delas foi com a força que é uma transa com quem se gosta. Com nenhuma delas foi aquela trans que dá vontade de chorar porque o sentimento não agüenta e tem que extravasar por outro buraco que não o que está sendo tapado naquele momento. Foram trepadas de sorrir. Sorri o tempo todo em todas elas, o que é ótimo.

Mas não senti algo que me fizesse emudecer e me preocupar com a perda da sanidade, com a fragmentação do meu corpo, com o esfacelamento de meu coração. Nada disso. Orgasmos muitos e múltiplos e de todos os tipos. Mas nenhum orgasmo orgânico. Você me entende, amigo?

E não é falta de vontade. Eu e meu moleque já estamos que não nos agüentamos. Ao mesmo tempo em que quero amá-lo mais que qualquer outro cara este ano, é com ele que tenho mais receio. Dia 19 de outubro já faremos 2 meses de enrolação. Ele continua se comportando como moleque, e isso me deixa ainda mais louca e com vontade de comê-lo. Sinto-me quase um homem, veja que absurdo! Mas quero que aconteça quando eu souber que depois ele se vai para sempre ou que depois ficará ao me lado, Não quero trepar e descobrir isso depois. Não sei se você entende. Acho que entende, sim.

Eu sei que é a primeira vez que estou gostando de um cara sem com isso estar sofrendo. Claro que me chateio bastante com o fato de ele ser um moleque comprometido. Mas ao mesmo tempo ele consegue ser perfeito nas pequenas coisas que 99% dos homens falham. Ele liga sempre que diz que vai ligar. Ele é sincero. Ele não me esconde as coisas. Ou esconde e não sei?

Sei lá, amigo. Por enquanto não fui ferida, então continuo em campo, então continuo atrás do meu gol.

Sabe, no Domingo, quando voltávamos da viagem, sentamos juntos na van e foi delicioso. Pegamos seu jornal e meu livro. Cada um fingia que lia seu respectivo entretenimento, quando o entretenimento real rolava embaixo desses. Foi coisa de segundos para eu não soltar qualquer coisa comprometedora. Ele deve meter pra caralho, amigo.

Agora preciso ir para casa. Aqui nessa cidade cinzenta e fedida tem rodízio e hoje é dia do meu. Tenho mais a contar, claro, mas...

Conte-me de suas aventuras também. Você bem sabe que adoro ouvi-las.;-)
</Bia Singer> <!--4:33 PM-->

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