*__Ponte aérea__*
Uma gringa paulista metida a besta trocando cartas confidenciais com um carioca metido a esperto.

sexta-feira, março 14, 2003

<Bia Singer> Renée is cryin'

Meu querido,

hoje fui até o fim de nossa Ponte Aérea e percebi que nosso contador sumiu. Foda-se. Ele contava nós dois e mais alguns buscadores de baixaria por aí afora. Agora conta vez ou outra a sua amiga Tatiana. Tatiana é aquela que você disse ter o rosto parecido com o meu? É, não é? Mas não pense que todas as paulistas são loiras de olhos claros como nós. Ainda somos exceção nesse país ensopado e é por isso que fazemos tanto sucesso.

Sabe, estou com dois cursores piscando enquanto toca "Renée is cryin'" no meu som. É uma música linda do último CD do Luna. O do editor do blog e o do Word. Agora estou falando dos cursores novamente. Preciso escrever um artigo assinado para o Observatório e está realmente difícil. A pauta veio por fax. Estudei o artigo como uma de suas aluninhas, com marca-texto e lapiseira empunhadas, debruçada sobre aquele monte de letrinhas que se refletiam nos meus óculos. Fazia tempo que não me via estudante. Foi bom. acho que nunca vou parar de estudar.

Há pouco fiz o buço. Olho para mim no espelho e pareço o bozo. Mulher tem que se sacrificar de vez em quando, ou vocês gostam de mulher bigoduda? Diga-me, querido, você já beijou uma mulher bigoduda? É muito bom. Não que eu tenha beijado uma menina de igode, e sim alguns homens. Eu gosto. Fico toda vermelha, mas eu gosto. Amanhã estou indo para Ibitinga. Domingo tenho maratona. Será na nascente do Tietê e a prova será de rio, com 6km. A equipe toda vai de ônibus. Sei que Meu Moleque vai sentar ao meu lado. Ele não perde oportunidades. Ainda mais que sabe que sou chegada a uma putaria. Ele senta do meu lado e nem precisa fazer muita coisa. Ele ri de lado e eu já me desmancho e faço *tudo* o que ele quiser.

É terrível.

Depois me sinto uma merda. Ele não é meu. Ele me tem quando quer, mas me destem com a mesma facilidade. Eu juro que quero inverter esse jogo, mas acho que não sou realmente capaz. De qualquer forma, tentarei. Segurarei o biscroc e só darei para ele comer quando já tiver sentado, deitado, rolado, fingido de morto e, finalmente, descobrir que precisa de mim para ser feliz. Aí eu darei o biscroc em sua boca babona e arfante, com todo prazer.

Ele me domina. Deve achar que sou uma vadia. Uma vadia por quem ele tem um imenso carinho. Não mais que isso. O estranho, o mais estranho de tudo, é que parece que esse carinhozinho me deixa loucamente feliz, como se fosse suficiente. Será que sou mesmo uma vadia? É a única conclusão a que consigo chegar.

Por outro lado, o que é ser vadiazinha, putinha, mulherzinha, piranha, galinha? O que é, amigo? Me diga! Me diga porque se existe tal rótulo, preciso saber se ele é colável em minha testa. E se for, porque não assumir. Preciso saber que sendo o que qualquer rótulo diz que sou, ainda sou eu. Eu que sou eu apenas para mim e mais ninguém. Eu não sei se preciso mesmo de carinho. Mas quando ele dá me faz um bem... E quando não dá dói tanto...

Eu não consigo esquecer aquele Moleque. Ele está nadando ao meu lado, quase como deus nos fez, todo santo dia por duas horas. Por duas horas ouço sua respiração acelerada e compassada com a minha, exaustos do treino. Todo dia tento desviar o olhar do olhas dele, enquanto embaixo d'água, sob as lentes espelhadas e vermelhas de meus óculos, quase torço meu globo ocular para arrancar um pedaço dele com algum raio X que eu não emito.

POR QUE ELE NÃO LARGA A NAMORADA E FICA COMIGO? POR QUÊ?????

Ela é feia. Ela é chatinha. Ela é bobona. Ela é antipática. Ela é ADEVOGADA. Ela é comum.

Eu não entendo. Não entendo. </Bia Singer> <!--5:47 PM-->

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